DE TALOKAN À WAKANDA

COLONIALISMO EPISTÊMICO E A IMAGINAÇÃO CONTRA-HEGEMÔNICA EM PANTERA NEGRA: WAKANDA PARA SEMPRE (2022)

Resumo

O artigo analisa criticamente Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2022), de Ryan Coogler, examinando como a obra constrói uma narrativa contra-hegemônica a partir do confronto entre Wakanda e Talokan. A pesquisa, de caráter qualitativo, exploratório e bibliográfico, fundamenta-se nos conceitos de colonialidade do poder (Quijano, 2010), racismo estrutural (Almeida, 2019), necropolítica (Mbembe, 2018), pedagogia libertadora (Freire, 1996; 2011) e princípio esperança (Bloch, 2005), articulando-os às ideias de convergência cultural (Jenkins, 2009) e resistência cultural no capitalismo tardio (Jameson, 1994). A análise observa que Wakanda, ancorada no afrofuturismo e na soberania tecnológica africana, representa uma postura de preservação e diplomacia estratégica, enquanto Talokan, com raízes mesoamericanas e memória de trauma colonial, adota uma política de autodefesa radical. A narrativa fílmica, ao evitar soluções maniqueístas e ao construir uma aliança instável entre as nações, subverte convenções do gênero, posicionando povos historicamente marginalizados como protagonistas políticos e culturais. O estudo também examina o diálogo do filme com sua matriz nos quadrinhos, ressaltando a transformação de Atlântida em Talokan e as implicações dessa reinterpretação para a representação indígena e afro-latina. Conclui-se que a obra opera como pedagogia estética, capaz de mobilizar o espectador para reflexão crítica sobre colonialismo, soberania e solidariedade no Sul Global, revelando que, mesmo inserido nas estruturas da indústria cultural, o cinema blockbuster pode articular imaginários políticos emancipadores.